AULA DE HOJE: 16/11/2020
APRESENTAÇÃO DOS GRUPOS DIVIDIDOS NA AULA PASSADA:
2 MÉTODOS DA PESQUISA QUALITATIVA
Ao identificar as principais características das metodologias de investigação na área de educação,
a partir do caráter empírico das ciências humanas, seus desdobramentos e suas atualizações,
referentes às novas tecnologias e às necessidades demandadas dos atuais contextos socioculturais,
apresentam-se algumas análises de métodos e técnicas de pesquisa qualitativa. Entre estes, a
observação constitui-se um dos mais importantes elementos para a pesquisa empírica. Através da
observação os fatos são percebidos diretamente, sem interferências. O principal incômodo da
observação pode ser estabelecer, em alguns casos, nas possíveis alterações de comportamento dos
observados, reduzindo a naturalidade.
2.1 Observação
O observador completo deve se manter distante dos eventos observados, a fim de evitar influenciálos, aplicando neste contexto a observação secreta, onde os observados não são informados sobre
a presença do observador (CRESWELL, 2012). Para observação não participante, são necessárias
algumas etapas, entre elas: Seleção do ambiente; Definição do que deve ser documentado;
Treinamento dos observadores; Observações focais; Observações seletivas; O fim da observação.
Para a observação não participante, quanto mais público e desestruturado for o campo, mais fácil
desse observador assumir o papel que não seja facilmente percebido. O pesquisador deve
permanecer alheio à comunidade, grupo ou situação que se pretende observar. Um dos maiores
desafios enfrentados na observação não participante refere-se ao significado que deve ser atribuído ao fato observado, o pesquisador precisa ser dotado de conhecimentos prévios acerca da
cultura do grupo que pretender observar (ANGROSINO, 2009).
A Observação Participante é a forma de observação mais utilizada na pesquisa qualitativa e
consiste na participação real na vida da comunidade, grupo ou determinada situação. É um tipo
de método normalmente utilizado no estudo de culturas. Neste caso o observador assume, pelo
menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo (MARIETTO, 2016).
A Observação Participante possui sete características importantes na sua categorização: interesse
na interação humana, localização do espaço-tempo das situações e dos ambientes, ênfase na
interpretação e compreensão da existência humana, processo de investigação ilimitado, flexível e
oportunista, abordagem tipo estudo de caso, desempenho de um ou mais papéis de participante e
o emprego da observação direta em conjunto com outros métodos de coleta de informações
(CRESWELL, 2012),
Para o autor, o pesquisador deve tornar-se cada vez mais partícipe no processo e ter acesso às
pessoas e ao campo. É necessário que a observação seja concentrada no que é mais essencial. As
fases de observação participante são: observação descritiva, observação localizada e observação
seletiva; e as nove dimensões de observações são: “espaço, ator, atividade, objeto, ato, evento,
tempo, objetivo e sentimento” Creswell (2012, p. 40).
As principais vantagens desse tipo de observação é a facilidade de acesso a dados enquanto a
desvantagem refere-se às restrições de como acessar o campo da subcultura estudada. A
Observação Participante, em resumo, é uma técnica de investigação social em que o observador
partilha, na medida em que as circunstâncias o permitam, as atividades, ocasiões, interesses e
afetos de um grupo de pessoas ou de uma comunidade (MARCON; ELSEN, 2000).
O registro da
observação é feito no momento em que esta ocorre e pode assumir formas diversas. As mais
comuns são a escrita ou a gravação de sons ou imagens. As fotografias, filmes e filmagens estão
sendo cada vez mais utilizadas como fonte de dados nas pesquisas. As câmeras permitem registros
detalhados de fatos, permitem o transporte de artefatos e a apresentação destes como retrato. Para
esse tipo de registro, o ideal é que o pesquisador (fotógrafo) utilize sua câmera de uma forma que
não atraia tanto a atenção dos fotografados, para que não haja a perda da neutralidade
(MARIETTO, 2016).
2.2 Estudo de caso
O Estudo de Caso é um tipo importante de pesquisa empírica, embora apresente algumas
diferenças da etnografia clássica. Pesquisadores dessa metodologia podem se concentrar em um
programa ou atividade envolvendo indivíduos em vez de um grupo. O Estudo de Caso contribui
para compreendermos melhor os fenômenos individuais, os processos organizacionais e políticos
da sociedade. Os tipos de casos que os pesquisadores qualitativos estudam podem ser um único
indivíduo, vários indivíduos separadamente ou em grupo, um programa, eventos ou atividades.
Pode ser selecionado para estudo porque é incomum e tem mérito em si (SANTOS, 2011).
É uma investigação que trata sobre uma situação específica, procurando encontrar as
características e o que há de essencial nela. Segundo André (2013), os estudos de caso vêm sendo
usados há muito tempo em diferentes áreas de conhecimento, tais como: sociologia, antropologia,
medicina, psicologia, serviço social, direito, administração, com métodos e finalidades variadas.
André (2013) destaca três pressupostos básicos que devem ser levados em conta ao se optar pelo
uso do estudo de caso qualitativo: 1) o conhecimento está em constante processo de construção;
2) o caso envolve uma multiplicidade de dimensões; e 3) a realidade pode ser compreendida sob
diversas óticas. O primeiro pressuposto implica uma atitude aberta e flexível por parte do
pesquisador, o segundo pressuposto requer que o pesquisador procure utilizar uma variedade e
fontes de dados, de métodos de coleta, de instrumentos e procedimentos e o terceiro pressuposto
exige uma postura ética do pesquisador, que deve fornecer ao leitor as evidências que utilizou
para fazer suas análises.
2.3 Pesquisa-Ação
A consolidação da pesquisa-ação no âmbito educacional intensificou-se no Brasil a partir da
década de 1980 com forte influência de Paulo Freire (1970) e “seus postulados sobre a importância
da reflexão crítica dos sujeitos sobre suas práticas e da problematização da realidade para seu
enfrentamento” (TOLEDO; JACOB, 2013). Ainda sobre o caráter participativo, pode-se dizer
que para sua verdadeira efetivação, a participação no processo de pesquisa não pode limitar-se à
divulgação de informações ou a uma consulta popular; implica uma postura proativa no processo
de tomada de decisões e deve ocorrer no âmbito do aprendizado, de forma interativa e
colaborativa, e, em nível mais elevado, promover um processo de aprendizagem mútua e de
fortalecimento comunitário (TOLEDO; JACOB, 2013).
Os estudos de pesquisa-ação têm sua origem em trabalhos desenvolvidos por Dewey (1929), que
ressaltavam a importância de pesquisas sobre a prática escolar e a obtenção de melhores resultados
a partir do envolvimento dos sujeitos nesse processo. Aproximando-se do pensamento de Freire
(1970) e contribuindo para o fortalecimento da pesquisa-ação na educação, estão as ideias de
Laurence Stenhouse, John Elliot, Wilfred Carr e Stephen Kemmis, valorizando a postura
investigativa do professor para melhorar sua prática (BICUDO, 1994).
Ao se posicionar como instrumento de investigação e ação à disposição da sociedade, a pesquisaação exerce também uma função política, oferecendo subsídios para que, por meio da interação
entre pesquisadores e atores sociais implicados na situação investigada, sejam encontradas
respostas e soluções capazes de promover a transformação de representações e mobilizar os
sujeitos para ações práticas e enfrentamentos de conflitos (TOLEDO; JACOB, 2013).
2.4 Pesquisa de desenvolvimento
Do inglês “design-based research”, a pesquisa de desenvolvimento refere-se às “investigações
que envolvem delineamento, desenvolvimento e avaliação de artefatos para serem utilizados na
abordagem de um determinado problema, à medida que se busca compreender/explicar suas
características, usos e/ou repercussões” (BARBOSA; OLIVEIRA, 2015). Esse tipo de pesquisa é
uma modalidade de estudo científico que deve gerar algum produto para dar conta de uma
problematização.
Um material didático ou um software, por exemplo, podem ser o produto final da pesquisa de
desenvolvimento e tem se tornado muito comum na área das ciências exatas nas últimas décadas,
tanto que é apresentada como uma resposta às críticas de que a pesquisa educacional não teria
grandes relevâncias para solucionar os problemas da educação. Portanto, a Pesquisa de
Desenvolvimento, assim como tipos de Pesquisa-ação, também é chamada de Pesquisa de
Intervenção, pois estudos desta natureza visam, invariavelmente, intervir nos processos
educacionais como parte do estudo científico (BURD, 1999).
Existe uma grande articulação entre a Pesquisa de Desenvolvimento e a geração de produtos a
serem utilizados na abordagem dos problemas educacionais e esta característica responde às
críticas do distanciamento entre a pesquisa educacional e o desenvolvimento de técnicas e
instrumentos promotores do processo de ensino-aprendizagem.
A Pesquisa de Desenvolvimento estabelece uma “ponte” entre duas culturas distintas: a da pesquisa e a do desenvolvimento
(GERALDI; BIZELLIM, 2017).
2.5 Experimentos de Ensino
O método de Experimento de Ensino incorpora três elementos à entrevista tradicional: a
modelagem (capacidade de adaptação das perguntas ao nível de desenvolvimento dos indivíduos);
os episódios de ensino (com a presença do professor, as técnicas de ensino em sala de aula podem
ser modificadas) e as entrevistas propriamente ditas (que podem ser individuais ou em grupos),
envolvendo professores, alunos e pesquisadores (enquanto observadores ativos no processo), os
episódios de ensino têm como foco o raciocínio dos alunos, (BARBOSA; OLIVEIRA, 2015).
O
pesquisador assume um papel muito próximo da mediação do conhecimento, pois há um repasse
da análise para os professores, a fim de se promover um caminho mais efetivo no processo de
ensino-aprendizagem.
As vantagens dessa metodologia de pesquisa são a semelhança com a própria aula, o que torna
invisível a presença do pesquisador enquanto mero observador dos fatos e a escolha dos métodos
e técnicas de ensino mais apropriadas ao nível e/ou a necessidade dos estudantes (CRESWELL,
2012), além de o Experimento de Ensino poder fornecer mais informações sobre os melhores
percursos da aprendizagem para os profissionais, possibilita percepções dos estudantes em relação
às descobertas científicas (FLICK, 2009).
2.6 Pesquisa Histórica
A Pesquisa Histórica vem se tornando importante metodologia de conhecimento científico
contextualizado, pois se trata de um processo de sistematização de eventos para aprofundamento
do campo teórico. A Pesquisa Histórica é primordialmente um método interpretativo, subjetivo e
complexo. Isso não lhe retira o caráter científico e contextual (TASHAKKORI; TEDDLIE, 2003).
Os eventos são o seu principal foco de investigação e, segundo Johnson e Christensen (2014), está
baseada no levantamento e leitura de extenso material sobre o tema, ainda que histórias orais
façam parte do arcabouço investigativo da pesquisa. As narrativas orais podem trazer “insights”
sobre os temas assim como preencher lacunas proporcionadas pela literatura oficialmente
constituída. Os autores Johnson e Christensen (2014) apontam algumas características do investigador histórico, entre elas estão o criticismo, a capacidade de sintetizar, o conhecimento
profunda da história e os posicionamentos crítico-reflexivos acerca da historicidade, dos fatos
oficiais e dos dados coletados.
2.7 Pesquisa Etnográfica
A Etnografia é uma metodologia das ciências sociais, principalmente na área da Antropologia,
em que o principal foco é o estudo da cultura e o comportamento de determinados grupos sociais.
Segundo Flick (2009), os estudos etnográficos são procedimentos de pesquisa qualitativa para
descrever, analisar e interpretar padrões de comportamento de um grupo que se desenvolvem com
o tempo. As raízes da etnografia educacional estão na antropologia cultural.
De acordo com a
classificação de Flick (2009), a etnografia apresenta as seguintes formas: A etnografia realista, o
estudo de caso e a etnografia crítica.
Etnografia realista é uma abordagem usada pelos antropólogos culturais, onde o etnógrafo
descreve o estudo em terceira pessoa e escreve relatórios sobre observações dos participantes e
seus pontos de vista, não inserindo suas reflexões pessoais. O pesquisador descreve dados
objetivos não contaminados por pré-conceito pessoal, objetivos políticos e julgamentos subjetivos
(GEERTZ, 2008).
Etnografias críticas são tipos de pesquisa etnográfica em que o autor está interessado em defender
a emancipação de grupos marginalizados em nossa sociedade. O etnógrafo crítico estuda questões
sociais de poder, empoderamento, desigualdade, vitimização entre outros; é autoconsciente sobre
sua interpretação; posiciona-se explicitamente no texto; é autoconsciente de seu papel social. Esta
posição não neutra para o pesquisador crítico também significa que ele ou ela passa a ser um
defensor da mudança para transformar a sociedade para que as pessoas sejam menos oprimidas e
marginalizadas (ADLER, 2000).
Os etnógrafos apresentam a descrição, os temas e a interpretação dentro do contexto ou definição
do grupo de partilha de cultura. O contexto para uma etnografia é o cenário, a situação ou ambiente
que envolve o grupo cultural em estudo. As abordagens qualitativas de pesquisa se fundamentam
numa perspectiva que concebe o conhecimento como um processo socialmente construído pelos
sujeitos nas suas interações cotidianas, enquanto atuam na realidade, transformando-a e sendo por
ela transformados (GUALDA; MERIGHI; OLIVEIRA, 1995).
2.8 Pesquisas Narrativas
Os gêneros textuais narrativos sempre fizeram parte da vida dos seres humanos. É possível dizer
que a história da evolução das ciências e da própria evolução humana se deu/se dá através das
narrações, sejam escritas em compêndios teóricos, nos anais informativos ou nas conversas
informações, generalizadas pela oralidade.
Em projetos de pesquisas narrativas, os investigadores
descrevem/contam vidas, impressões, subjetividades. Enquanto estudo qualitativo, podem se
concentrar na vida de uma única pessoa, segundo Creswell (2012). Mas, isso não retira o rigor
necessário ao conhecimento e relatos científicos, pois têm como objetivo e métodos a recolha de
histórias, relatos de experiências individuais e interação discursiva sobre os significados dessas
experiências com o próprio indivíduo.
Para a realização das pesquisas narrativas, é necessário encontrar pessoas dispostas a contar suas
histórias.
Em estudos recentes, os pesquisadores estabelecem um vínculo estreito com os participantes. Isso pode
ajudar reduzir uma percepção comum dos profissionais no campo que a pesquisa é distinta da prática
e tem pouca aplicação direta. Além disso, para os participantes de um estudo, compartilhar suas
histórias pode fazê-los sentir que suas histórias são importantes e que são ouviu. Quando eles contam
uma história, isso ajuda a entender os tópicos que precisam processar.
Contar histórias é uma parte
natural da vida, e todos os indivíduos têm histórias sobre suas experiências para contar aos outros.
Desta forma, a pesquisa narrativa captura todos os dias, forma normal de dados que é familiar aos
indivíduos (CRESWELL, 2012, p. 503).
O autor disponibiliza um quadro de classificação dos tipos de estudos narrativos, apresentados
como exemplos de Tipos de Formulários de Pesquisa Narrativa, entre eles estão: Autobiografias;
Biografias; Escrita da vida; Narrativas pessoais; Documentos pessoais; Etno-histórias;
Etnobiografias; Etnografias centradas na pessoa; Memórias Populares; e Entrevistas.
A pesquisa narrativa deve ser entendida como uma forma de compreender a experiência humana,
assim, os pesquisadores narrativos podem descrever, coletar e contar essas histórias. Esse tipo de
pesquisa assume uma característica central importante, que é a preocupação em relação às
dimensões: temporal, relacional e situacional. Ao coletar histórias, os pesquisadores narrativos
precisam ser cautelosos e rigorosos, principalmente no tratamento das informações,
explicitamente subjetivas. A coleção de múltiplos textos de campo, a triangulação de dados e a
verificação de membros podem ajudar a garantir que dados bons sejam coletados (CLANDININ;
CONNELLY, 2000).
Segundo Creswell (2012), dentre os inúmeros desafios da pesquisa narrativa, o pesquisador
precisa trabalhar na dimensão ética, onde pesquisar histórias de vida e narrativas exige o aprender
a trabalhar nos limites da relação dialética entre os interesses individuais, do pesquisador e do
pesquisado, e entre os interesses desses sujeitos e os das comunidades a que um e outro pertencem
ou representam.
2.9 Entrevistas
Nos estudos científicos em educação, várias tendências das pesquisas narrativas estão em pleno
desenvolvimento na atualidade. Entre elas, os mais diversos tipos de entrevistas. Segundo Amado
e Ferreira (2013), a entrevista é um dos mais importantes instrumentos de compreensão dos seres
humanos nas pesquisas científicas nas mais diversas áreas. Segundo os autores, trata-se de um
meio de transferência de informações, com interferências intencionais, abastado de nuances
subjetivas e preciosas.
Atualmente, são inúmeros os tipos, as formas e os fins a que se destinam
as entrevistas.
Cara a cara (entre as vistas) ou valendo-se dos mais avançados meios de comunicação, as
entrevistas apresentam diversas estruturas, entre as quais: estruturada (ou direta; sem grande
flexibilidade, obedece um roteiro objetivado pelo investigador); semiestruturada (ou semidiretiva;
modelo mais utilizado nas pesquisas qualitativas, trata-se de um roteiro previamente planejado
pelo investigador, mas que é flexibilizado pelo percurso discursivo do entrevistado); não
estruturada (ou não-diretiva; quando as questões são apresentadas a partir da interação entre
investigador e entrevistado, sem partir de nenhum enquadramento teórico previamente
estabelecido); informal (ou conversação; muito comum nos estudos etnográficos; sem nenhum
plano prévio, trata-se de uma conversa informal sobre o tema e pode discorrer sobre temas afins
que, ocasionalmente, podem fazer parte do arcabouço informativo coletado pelos integrantes da
comunidade) (DUARTE, 2004; ALBUQUERQUE et al., 2014).
Uma modalidade de entrevista que vem chamando a atenção da comunidade acadêmica é a
investigação coletiva ou entrevista em grupo, ao que os autores chamam atenção para um
problema: o grupo pode apresentar problemas de identidade coletiva, ou seja, os membros
reagirem como uma entidade e produzir uma informação unívoca, inclusive quando os indivíduos
respondem diferentemente às mesmas questões, quando entrevistados conjuntamente com colegas
ou na individualidade e no anonimato (BONI; QUARESMA, 2005).
A técnica do Grupo Focal consiste em envolver um grupo de representantes de uma determinada
população na discussão de um tema previamente fixado, sob o controle de um moderador que
estimulará a interação e assegurará que a discussão não extravase do tema em foco. É no contexto da
interação que se espera que surjam as informações pretendidas (AMADO; FERREIRA, 2013, p. 226).
As entrevistas na modalidade Grupo Focal devem ser preparadas a partir das escolhas dos temas,
dos participantes e dos contextos de conversação, observando detalhes para melhor
aproveitamento do momento: explanação clara dos conceitos, guia da entrevista, comodidade aos
participantes, assim como estímulo às falas e responsabilidade teórica e ética na escolha dos
participantes. O moderador (que pode ser o pesquisador) deve estar ciente de seu papel nessa
técnica de entrevista: manter o foco, respeitar os participantes, tornar-se claro nas perguntas e
assegurar segurança, conforto e anonimato aos entrevistados. E, a partir das discussões,
geralmente filmadas ou gravadas em áudio (com prévia autorização dos participantes), o
investigador deve fazer a transcrição para posterior análise dos dados, o que pode ocorrer a partir
da Análise do Conteúdo, segundo Flick (2009).
São muitos os tipos de entrevistas em pesquisas qualitativas em educação e seus formatos estão
cada vez mais atualizados às tecnologias da contemporaneidade, o que não poderia ser diferente,
vivenciando um grande boom desenvolvimentista em relação aos meios de comunicação, na érea
da comunicação imediata, TIC e afins. Portanto, é natural que as entrevistas também possam ser
concebidas pelo processo da tecnologia da comunicação online, no ciberespaço (como as
entrevistas virtuais e a netnografia) (FERNANDES, 2014).
A pesquisa virtual nada mais é que o uso da revolução digital para efeitos de coleta/produção de
dados nas ciências humanas, seja como ciberespaço, quando a busca é feita no ambiente que já
existe e está em pleno funcionamento, com a realidade virtual ou a virtualidade real, no
ciberespaço, ou quando essa construção deriva dos recursos tecnológicos da internet para a
construção/constituição desses dados. Neste caso, os métodos qualitativos de coleta/construção
dos dados da pesquisa são tradicionais, a internet funciona apenas como espaço e meio de contato
entre pesquisador e pesquisado (MENDES, 2009).
Flick (2009) aborda três condições prévias para a pesquisa qualitativa online: 1. A familiaridade
do pesquisador com o ambiente online, é preciso conhecer formas de comunicação online, ter
acesso assegurado e gostar de estar/trabalhar online; 2. A temática da pesquisa precisa ser
condizente com o ambiente virtual; 3. Os participantes devem estar facilmente conectados via
internet, a rede não deve ser apenas o contato, mas o ambiente e objeto de pesquisa. A partir daí, deve ser conduzida a transferência dos métodos e da pesquisa qualitativa para a internet, inclusive
com métodos como a entrevista online utilizando-se dos mais diversos meios de conversação
tecnológica, inclusive por e-mail. E aqui cabe um rigor extra para que não se configure como
questionário online.
Algumas vantagens das entrevistas online são maior anonimato, maior tempo para reflexão das
respostas e facilidade de integração dos envolvidos. No entanto, estas também podem ser as
maiores dificuldades para o método: o anonimato pode gerar menor interação, as reflexões
demoradas podem enfraquecer a pesquisa pelo menos teor de espontaneidade e demandar mais
tempo, assim como a integração dos participantes pode ser prejudicada pelos ajustes necessários
a essa forma de interação: não presencial. Mas, para Creswell (2012), a principal vantagem deste
tipo de pesquisa está no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos
muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. No entanto, é preciso que os
pesquisadores se assegurem das condições que os dados foram obtidos, analisar em profundidade
as informações, utilizando fontes diversificadas.