AULA DE HOJE 10-05-21
Metodologias no Ensino de
Ciências
Nessa etapa do estudo iremos contemplar questões
relacionadas à elaboração e aplicação de atividades práticas para a
aprendizagem do Ensino de Ciência em que se ajustem os objetivos, conteúdo
programático e metodologia às características específicas do aluno real.
Isto nos leva a perguntar: Afinal, como ensinar
ciências?
Como ensinar ciências na educação infantil?
Como ensinar ciências nos anos iniciais da educação
básica?
Quais são as metodologias que podem ser utilizadas no
processo de ensino-aprendizagem?
Nessa etapa do estudo iremos verificar algumas
alternativas metodológicas relacionadas ao ensino de ciências na prática
pedagógica do professor.
Aprender uma ciência não se resume a conhecer
conceitos e a aplicar fórmulas, mas também consiste na incorporação de atitudes
e valores (condicionantes da ação humana, que uma determinada visão científica
produz, a exemplo do que representa para a humanidade hoje os avanços da
clonagem), expressados estes em distintas atividades do educando, que incluem
suas discussões, leituras, observações e experimentações. Por esta razão, se
pode afirmar que aprender não é algo que se realiza pela simples absorção
passiva de conhecimentos; ao contrário, há a exigência de uma transformação
sobre aquilo que é objeto de interações constantes, pois, se assim não o fosse,
poderíamos tanto afirmar o princípio do aluno “tábula rasa” quanto dizer que
nada muda no mundo.
Essa convicção aponta para uma nova postura
metodológica, difícil de implementar, pois exige a alteração de hábitos de
ensino há muito consolidados.
Não se trata simplesmente de convencer os professores
a adotarem uma nova prática, o que por si só já é difícil, mas de alterar o
comportamento de alunos e da escola, habituados por muito tempo ao aprendizado
passivo, em que o professor não só coordena mas também concentra as ações. A partir dessa compreensão do processo educativo, o
desafio primeiro para o professor é conseguir ligar a turma de alunos no tema,
num sentido mais amplo, e não simplesmente fazê-los prestar atenção, mas sobretudo
significando tomar parte ativa, participar, contribuir para o aprendizado
coletivo. Para isto, uma primeira condição é estabelecer um diálogo real, ou
seja, entender e fazer-se entender; uma outra condição é tratar os conteúdos de
forma a ter os alunos permanentemente interessados e cientes do sentido do que
se estuda. Estas condições permitirão ao professor conduzir o aprendizado de forma
solidária com a turma e não em oposição a ela.
As indicações metodológicas na disciplina de ciências
naturais devem ser encaminhadas como nos outros componentes curriculares, de
matemática e de português, por exemplo. As orientações metodológicas para
qualquer área de conhecimento, na educação infantil e nos primeiros anos do
ensino fundamental, estão vinculadas à relação entre o que o aluno domina e os
novos conceitos a serem dominados. Em outras palavras, o professor, ao
trabalhar os conteúdos, deverá priorizar os conceitos anteriores ao processo de
escolarização com os conceitos científicos. Desse modo, valorizar, fazer menção
e aproveitar o que o aluno já domina é um dos caminhos metodológicos indicados
para uma aprendizagem significativa, porém não podemos esquecer que:
uma educação de qualidade deve permitir ao estudante
ir além dos referentes de seu mundo cotidiano, assumindo-o e ampliando-o, de
modo a tornar-se um sujeito ativo na mudança de seu contexto. Para que isso
ocorra, são indispensáveis conhecimentos e experiências escolares que garantam
ao aluno uma visão acurada da realidade em que está inserido (favorecendo-lhe
uma ação consciente no mundo imediato) e que contribuam para a expansão de seu
universo cultural. (MOREIRA, 2008, p.2)
Assim, uma criança
(...) mobiliza-se, em uma atividade, quando nela faz
uso de si mesma como recurso, quando é posta em movimento por móbeis que
remetem a um desejo, um sentido, um valor. A atividade possui, então, uma
dinâmica interna. Mas não se deve esquecer, entretanto, que essa dinâmica supõe
uma troca com o mundo, onde a criança encontra metas desejáveis, meios de ação
e outros recursos que não ela mesma. (CHARLOT, 2005, p.55.)
Entretanto, o professor deverá estar ciente que a
metodologia é o caminho que será utilizado para ensinar. Essa escolha do
caminho que escolhe para ensinar está relacionada às ações que o professor
desenvolve para que ocorra a aprendizagem de um conteúdo pelo do aluno. Assim
os cuidados ao selecionar as técnicas (uso de um texto, um filme, uma atividade
experimental entre outros) que irá utilizar para ensinar um determinado saber
são etapas que não podem ser negligenciadas. A escolha metodológica é uma das
etapas do plano de aula, diz respeito à forma como serão desenvolvidas as
atividades que o professor irá propor para que um conteúdo seja
aprendido/compreendido pelo aluno.
Na atuação docente é importante compreender a
intenção, isto é, porque se ensina um determinado conteúdo e não outro, porque
se escolhe uma determinada metodologia e não outra. Portanto, a intenção, os
motivos orientam a seleção de técnicas pedagógicas.
Isto leva à compreensão de que a metodologia, “o como”
irei ensinar determinado conteúdo, deverá estar de acordo com a faixa etária
das crianças que estudam na educação infantil e anos iniciais.
Desse modo, é necessário que o professor esteja ciente
de que as estratégias de ensino resultam em aprendizagens mais significativas,
quando o docente escolhe atividades de acordo com o nível cognitivo e o
contexto sócioeducativo da criança, pois como lembra Charlot, algo “(...) pode
adquirir sentido, perder seu sentido, mudar de sentido, pois o próprio sujeito
evolui, por sua dinâmica própria e por seu confronto com os outros e o mundo”.
(CHARLOT, 2005, p.59).
Ainda, sobre essa questão, é preciso observar alguns
cuidados em relação às escolhas metodológicas, isto é, devem ser foco de
atenção por parte dos professores, pois o que se ensina a grande parte dos
alunos, muitas vezes, não têm sentido, por não ser compatível com o seu
desenvolvimento intelectual e emocional. (KRASILCHIK, 1987)
Dos apontamentos feitos até aqui, é fácil deduzir num
primeiro momento que: “O professor é o elemento do sistema que tem acesso
direto e contato contínuo com os estudantes, (...), É ele também quem decide,
em última instância sobre a utilização dos materiais didáticos”. (KRASILCHIK,
1987, p.45).
Num segundo momento, é oportuno compreender que: “Ao
professor cabe selecionar, organizar e problematizar conteúdos de modo a
promover um avanço no desenvolvimento intelectual do aluno, na sua construção
como ser social”. (BRASIL (c ), 1997, p. 28)
Mediante as reflexões anteriores não podemos esquecer
que:
Já são bem divulgadas as críticas ao ensino de
ciências centrado na memorização dos conteúdos, ao ensino enciclopédico e fora
de contexto social, cultural ou ambiental, que resulta em uma aprendizagem
momentânea, ‘para a prova’, que não se sustenta a médio ou longos prazos. Por
outro lado, é sabido que aulas interessantes de ciência envolvem coisas bem
diferentes, como, por exemplo, ler texto científico, experimentar e observar,
fazer resumo, esquematizar idéias, ler matéria jornalística, valorizar, (...),
dessa forma o conhecimento científico, que também é construção humana, pode
auxiliar os alunos a compreenderem sua realidade global ou regional. (BRASIL (c
), 1997, p. 58 v.4).
Uma das formas de possibilitar a compreensão dos
conteúdos de ciências como construção histórica é viabilizar a retomada do
contexto no qual são produzidos os conhecimentos científicos e tecnológicos,
pois:
A história das Ciências também é fonte importante de
conhecimentos na área. A história das idéias científicas e a história das
relações do ser humano com seu corpo, com os ambientes e com os recursos
naturais devem ter lugar no ensino, para que se possa construir com os alunos
uma concepção interativa de Ciência e Tecnologia não-neutras, contextualizada
nas relações entre as sociedades humanas e a natureza. A dimensão histórica
pode ser introduzida na séries iniciais na forma de história dos ambientes e
das invenções. Também é possível o professor versar sobre a história das idéias
científicas, conteúdo que passa a ser abordado com mais profundidade nas séries
finais do ensino fundamental. (BRASIL (c ), 1997, p.27)
É oportuno observar nesse ponto que a contextualização
das descobertas facilita o entendimento por parte do aluno sobre a existência
da relação homem e natureza, principalmente como fonte de vida e degradação das
sociedades.
Em alguns momentos falamos de conceitos científicos,
assim ,nessa etapa vamos buscar entender o seu significado.
O que se entende por conceitos científicos?
Segundo Astolfi e Develay (1991, p. 30): “Os conceitos
científicos (força, respiração, átomo ou ecossistema) não são da mesma natureza
que os conceitos linguisticos (mesa, banheira, liberdade ou felicidade), ou que
os conceitos matemáticos (número, tangente, diferencial)”. Explica, ainda, que
os conceitos científicos não designam um fato bruto, mas uma relação que pode
reaparecer em situações diferentes.
As duas características principais dos conceitos
científicos que são inseparáveis, são explicar e prever. (Astolfi e Develay,
1991, p. 31) Apontam também que todo conceito científico só é explicativo
dentro de certas limitações.
Em relação às leis científicas, estas organizam os
fatos em conjuntos coerentes, geralmente consideram apenas uma causa, isto é, a
mais importante para explicar um fenômeno, uma situação dada.
De acordo com Delizoicov e Angotti (1992, p. 35), “as
leis cientificas são afirmações que descrevem o comportamento de um sistema e
apresentam interpretações da natureza, através de modelos”. Exemplo, a “Lei de
Boyle (Quanto menor o volume de uma massa gasosa, maior a sua pressão) essa lei
explica o comportamento dos gases quando estão em temperatura constante”.
Desse modo, podemos observar duas características da
ciência.
1- “Trata-se de uma investigação humana, sem fim nunca acaba, é
construída por equipes de investigadres sintonizados com a sua época, em
permanente contato e intercambio de informações” (DELIZOICOV E ANGOTTI, 1992,
p. 40).
2- “É um empreendimento cujo desenvolvimento não é linear: apresenta
contradições, não é guiado exclusivamente pela indução e pela experimentação.”
(DELIZOICOV E ANGOTTI, 1992, p. 40).
Essas características permitem entender que a ciência
sofre evoluções não lineares. É justamente por não ser estática que em alguns
momentos ela sofre rupturas, pois novos entendimentos surgem a partir dos
experimentos. A ciência, por ser uma atividade humana permeada pela visão de
mundo dos cientistas, nem sempre beneficia todos os cidadãos.
Além disso, muitas vezes,
afirma-se que os sucessos da ciência são resultados da
aplicação do método científico. Ocorre que a história da ciência, da mesma
forma que indica períodos de revolução cientifica, não confirma a unidade de um
método cientifico. As etapas do processo são funções da época, das exigências
sociais e ingerências econômicas, do campo especifico em que se trabalha e
mesmo do temperamento da média do grupo de investigadores, chegando mesmo haver
hipótese lançadas quanto aos efeitos do aceso nas descobertas. (DELIZOICOV E
ANGOTTI, 1992, p. 40)
Você deve estar se perguntando como o professor irá
possibilitar a construção de conceitos científicos.
Astolfi e Develay, (1991, p.36) lembram que ensinar
“um conceito de biologia, física ou química, não pode mais se limitar a um
fornecimento de informações e de estruturas correspondendo ao estado da ciência
do momento, mesmo se estas são eminentemente necessárias”. Os autores apontam que
uma verdadeira aprendizagem científica é definida, no mínimo, pelas
transformações conceituais construídas pelo indivíduo, quanto pelo aprendizado
que é dispensado. Ou seja, é construída por meio do saber disponibilizado e da
apropriação dos conceitos.
O ser humano constitui e amplia os conceitos,
continuamente, mas esta ampliação depende de elementos internos e externos à
pessoa. Para constituição de um conceito não é suficiente somente a construção
de significado, mas também o estabelecimento e a compreensão das relações
múltiplas possíveis existentes entre os vários significados. Ao compreender
esta rede de relações, o ser humano constitui categorias de pensamento que vão
permitir, por sua vez, a compreensão de redes de relações mais complexas. (LIMA,
2008, p. 46)
Isto é possível na escola quando o professor lança
“mão” de atividades como, por exemplo:
não é só construir o significado da palavra ímã como
significante de um objeto terroso que gruda em outro, mas compreender como e
por que isso ocorre, compreender qual a relação entre as cargas, compreender o
que é campo magnético, relacionando estes fatos com fenômenos da natureza, como
a queda do raio, por exemplo (LIMA, 2008, p. 46).
Como foi possível notar, a construção de conceitos
científicos em ciências naturais, não ocorre apenas disponibilizando uma série
de textos, ou formulando questões para serem respondidas a partir do livro
didático.
A informação é parte, mas não dá conta da abrangência
de todo o processo de formação do conceito. Há um movimento necessário de
realimentação situada no tempo, ou seja, depende de experiências, informações e
dados – que transformem o conhecimento já constituído – acessíveis aos
educandos ao longo de um ano letivo ou de um ciclo de formação (LIMA, 2008, p.
46).
Outra orientação a respeito dos
conceitos é a de que “a aproximação ao conhecimento científico se faz
gradualmente. Nos primeiros ciclos o aluno constrói repertórios de imagens,
fatos e noções, sendo que o estabelecimento dos conceitos científicos se configura
nos ciclos finais”. (BRASIL (c ), 1997, p. 28)
No ensino de ciências naturais uma das técnicas
apropriadas para o trabalho pedagógico é a pesquisa, isto é,
A pesquisa na escola é uma maneira de educar e uma
estratégia que facilita a educação (...) e a consideramos uma necessidade da
cidadania moderna. (...) Educar pela pesquisa é um enfoque propedêutico, ligado
ao desafio de construir a capacidade de reconstruir, na educação básica e
superior... (...) É um desafio voltado para considerar a pesquisa como maneira
de educar. (DEMO, 1998, p.)
Desse modo, o trabalho com a pesquisa em ciências
naturais pode ser um caminho metodológico apropriado para a construção de
conceitos científicos.
Os campos do conhecimento científico — Astronomia,
Biologia, Física, Geociências e Química — têm por referência as teorias
vigentes, que se apresentam como conjuntos de proposições e metodologias
altamente estruturados e formalizados, muito distantes, portanto, do aluno em
formação. Não se pode pretender que a estrutura das teorias científicas, em sua
complexidade, seja a mesma que organiza o ensino e a aprendizagem de Ciências
Naturais no ensino fundamental. (BRASIL (c), 1997, p. 27, v. 4)
Portanto, na metodologia do ensino de ciências, algumas habilidades, segundo Delizoicov e Angotti (1992, p. 48), devem ser priorizadas no processo ensino-aprendizagem, tais como:
PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL:
1- Observação- deverá transcender o olhar ou registro de um fenômeno ou evento.
ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO:
2-Classificação- habilidade que localiza um fenômeno estudado segundo sua semelhança ou diferença.
3- Registro e tomada de dados, construção de tabelas- prática que possibilita organizar os trabalhos, as regularidades e anomalias dos fenômenos para confirmar ou não as hipóteses.
4- Análise- habilidade que se adquire ao se trabalhar os dados na solução de problemas e questões, no aprofundamento da reflexão sobre o comportamento do objeto de estudo. Esse momento é sempre apoiado em leis, teorias e modelos.
5-Síntese- geralmente essa habilidade ocorre na finalização de um projeto.
APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO:
6-Aplicação- Essa habilidade é ligada ao amadurecimento e do seu uso na vida cotidiana.
Em relação à experimentação, esta deverá
permear todas as etapas anteriores, pois a teoria e prática não devem estar
separadas. A ciência não evolui somente através de investigação teórica
tampouco somente de investigação experimental (DELIZOICOV E ANGOTTI, 1992).
Palavras finais
As questões metodológicas, em relação as aulas de
ciências, devem estar vinculadas ao entendimento de que a atuação do professor
possibilite situações de aprendizagem com questões-problemas; motivar e
observar os interesses dos alunos, orientando quando necessário; incentivando
os alunos a observarem aspectos que não tenham sido identificados na turma ou
grupos de trabalhos e que sejam importantes para o encaminhamento de novos
aprendizados.
As aulas de ciências devem privilegiar atividades experimentais e teóricas em que possam ser desenvolvidas habilidades tais como: observar, analisar, comparar, registrar e sintetizar aspectos relevantes dos conteúdos a serem apropriados pelos alunos. A pesquisa pode ser um dos caminhos metodológicos alternativos no ensino de ciências. O professor deverá associar os interesses dos alunos aos conteúdos a serem trabalhados, buscando desenvolver um trabalho interdisciplinar.
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