AULA DE HOJE: 29-06-21
Planejamento e Avaliação ao Ensino da Arte
Nesta aula daremos atenção ao planejamento e à
avaliação articulada ao ensino da Arte, compreendendo tais momentos como
processos integrados e imprescindíveis ao trabalho docente, tendo em vista a
reflexão para a ação, em ação e sobre ou pós-ação.
Valendo-me da magnitude da arte, peço a licença para registrar aqui uma
história de um autor desconhecido que me foi contada na trajetória docente, sem
que possa precisar quando e onde, mas cumpre papel reflexivo significativo à
temática.
Definindo o planejamento e o plano de ensino/aula no
Ensino da Arte
O planejamento é uma tarefa humana, pela racionalidade
e capacidade reflexiva de pensar o quê, quando, onde, como, para que e por quê.
Assim, o planejamento acompanha situações da vida cotidiana, planeja-se o
casamento, o nascimento de um filho, uma viagem, a compra de uma casa, uma
conquista de um desejo. Na vertente educacional, o planejamento pode ser
definido como o processo sistematizado pelo qual se pode conferir maior
eficiência às atividades educacionais para, em determinado prazo, alcançar as
metas estabelecidas.
Frente a isso, temos o plano de ensino enquanto nível
mais concreto de ação a cargo do professor, condição essencial para o êxito do
trabalho docente. Entretanto, o planejamento do ensino não é um pacote fechado
após sua elaboração. É algo flexível que pode ser alterado pela demanda, de
acordo com o retorno dos alunos; às vezes exigindo redefinição de objetivos,
acréscimo ou supressão de conteúdos ou mudança nas estratégias de ensino.
Planejar não é fazer alguma coisa antes de agir.
Planejar é agir de um determinado modo para um determinado fim. Isto quer
dizer, sobretudo, que planejar é incorporar à ação um algo. De imediato, esse
algo a mais deve ser definido como um modo de pensar, apto, ele mesmo, a gerar
um tipo próprio de ação.
(GANDIN, 1995, p. 116).
O planejamento do ensino é um instrumento estratégico
da ação educativa, que conta com a singularidade educador-educando, sendo
formalizador da dinâmica pedagógica, ao passo que contempla conhecimentos,
aspectos metodológicos, gostos e interesses dos parceiros educacionais, bem
como a reflexão para, na e sobre a ação. É condutor do percurso e base da
avaliação.
Existe, assim, uma relação de complementaridade entre
planejamento e avaliação, esses elementos do ensino são parceiros incontestes.
É essencial ao planejamento ser claro e compreensível aos envolvidos diretos,
favorecedor da avaliação como processo articulador, escapando do olhar ingênuo
para uma observação profunda, crítica e significativa. “O planejamento é um
processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente,
articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social” (LIBÂNEO,
1994, p. 222).
As finalidades mais importantes do planejamento,
independentes da área do conhecimento, são:
• Organizar antecipadamente a ação educativa;
• Evitar a improvisação, mas dar lugar à provisoriedade
(flexibilidade);
• Conduzir os educandos ao alcance de objetivos;
• Distribuir em equilíbrio o tempo educativo (livre/dirigido);
• Atingir a coordenação dos conteúdos e das atividades pedagógicas;
• Avaliar o caminho no caminhar e ao final da jornada, a fim de superar
dificuldades e traçar novos rumos educacionais.
Nesses termos, quando tratamos do planejamento, contemplaremos a
dimensão do plano de aula, roteiro abreviado e esquemático para a condução da
ação docente, documento pormenorizado, eixo norteador das ações educacionais,
em todas as áreas do conhecimento, que, todavia, não tem um modelo “certo” e
rígido a ser seguido na sua elaboração, basta que seja o norte para quem o
elaborou e claro aos interessados diretos. Portanto, necessita de sequência
coerente entre os elementos a serem considerados no processo de ensino -
aprendizagem (tema, objetivos, conteúdos, metodologia, avaliação e referências)17.
Considerando o exposto, apresentaremos um exemplo de plano de aula, o
qual já foi desenvolvido em nossa experiência educativa de outrora e que pode,
ou não, ainda alcançar viabilidade nas instituições de anos iniciais do Ensino
Fundamental e outras práticas docentes, tendo por foco o ensino da Arte:
Exemplo de Plano de Aula em Arte
1 Identificação
a) Escola Municipal Pingo de Gente
b) 1º ano do Ensino Fundamental
c) Professora Nájela Tavares Ujiie
d) 8 horas-aula / Distribuídas em quatro dias letivos
2 Tema
Cubismo: uma arte geométrica construtiva
3. Objetivos
a) Objetivo Geral:
- Oportunizar as crianças contato e apreensão significante do Cubismo,
enquanto corrente artística e arte planificada geométrica construtiva.
b) Objetivo Específicos:
- Apreciar obras Cubistas de Pablo Picasso;
- Contextualizar o movimento Cubista;
- Experienciar arte pelo concreto, numa prática de releitura e fazer
artístico vivencial;
-Fomentar a criatividade, a participação ativa, a formação estética, o
posicionamento e a expressividade na criança.
4. Conteúdos
-Definição e contextualização Cubista
-Apreciação artística Cubista em Pablo Picasso (1881-1973)
-Leitura estética18
-Releitura
-Fazer artístico vivencial: Planificação do outro
5. Metodologia
1. Roda da conversa inicial: Hoje estudaremos o Cubismo, ou movimento
Cubista em Arte. Alguém sabe o significado deste movimento? O que é um cubo?
Temos algumas hipóteses acerca das características deste movimento? Ouvir as
crianças de forma sensível, extraindo significâncias de suas contribuições.
2. Distribuir na roda obras Cubistas de Pablo Picasso, impressas em
papel fotográfico, tamanho A4, para apreciação, manipulação, deslumbramento e
diálogo entre as crianças e com elas.
3. Fixação de um cartaz na lousa conceituando Cubismo, leitura e
diálogo intertextual da compreensão da palavra e da compreensão de mundo das
crianças pelo exposto.
4. Assistir ao vídeo Obras de Pablo Picasso. Enviado por Konda 08/07/2006.
Duração: 5’09’’. Disponível em: http://www.youtube.com/ watch?v=W8MC2LC0U1o.
Acesso em: 01/10/2012.
5. Diálogo com as crianças das impressões, após terem assistido ao
vídeo.
6. Leitura estética a se realizar com suporte do roteiro.
7. Fixar as obras anteriormente manipuladas na lousa para observação e
escolha pessoalizada da criança, de qual obra desejará proceder à releitura.
Lembrando que a releitura, segundo Barbosa (2001), não é ato de cópia
reprodutiva do desenho, mas momento de exercício interpretativo do olhar e
criação inspirada por uma obra, pela ótica sensível do observador e intérprete
criativo. Disponibilidade de papel prancha, tamanho A4, lápis preto, borracha,
pincel e tinta guache.
8. Após secagem das releituras, ordenar na parede externa da sala uma
exposição. É importante evidenciar as obras e as releituras, com legendas de
créditos ao pintor da obra.
9. Exercício de Planificação do Outro: organize as carteiras de modo
que as crianças fiquem sentadas uma de frente para outra, aos pares. Rememore
as características do Cubismo: arte geométrica construtiva, planificação,
desenho de formas geométricas e apresentadas no mesmo plano. A seguir, solicite
a planificação do outro, cada um olhando para o modelo tridimensional a sua
frente, deverá realizar seu desenho. Disponibilize papel e lápis de cor.
10. Ao final da atividade, cada um deverá apresentar sua obra e
comentá-la. Poderemos expor num varal no interior da sala.
6. Avaliação
As crianças serão avaliadas por sua participação e envolvimento
demonstrado ao longo do desenvolvimento das atividades, exposição das suas
opiniões tanto pela oralidade, como pela exposição expressiva de sua
compreensão do movimento Cubista, materializada em sua produção pictórica de
releitura e no exercício de planificação.
7. Referências:
Ao finalizar o registro de um exemplo de plano de
ensino/aula, voltado ao ensino da Arte, esperamos ter sido elucidativos e
claros quanto ao encadeamento relacional das partes de um planejamento. E, na
sequência deste capítulo, buscaremos discutir a relação de complementaridade
existente entre planejamento e avaliação, pois as Orientações Pedagógicas
para os Anos Iniciais em arte (PARANÁ, 2010, p. 41) afirmam que: “Ampliar
repertórios artísticos, humanizar os sentidos e propor conhecimentos técnicos
em cada área são objetivos passíveis de serem avaliados. Afinal em algum
momento as crianças deverão responder a desafios e propostas docentes”. No
entanto, os moldes em que avaliação escolar é vista perpassam por uma dimensão
legal, conceitual e paradigmática, que delinearemos no próximo tópico.
A Avaliação Articulada ao Ensino da Arte
Discutir e dialogar acerca de avaliação escolar não é
uma tarefa fácil, uma vez que o tema não é simples e está imerso em dicotomias,
paradigmas tradicionais e emergentes, que polarizam a avaliação em
classificatória x mediadora; quantitativa x qualitativa; pontual x processual;
objetiva x subjetiva; padrão x evolutiva; coerção x correção; fechada x aberta;
dentre outras. Por outro lado, na atualidade, é válido ressaltarmos que a
avaliação é parte integrante do processo ensino/ aprendizagem e do
dimensionamento de uma práxis transformadora, sendo assim a avaliação um
processo relacional e dialético.
A LDB 9394/96, em seu artigo 24 inciso V, determina
que, “a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a)
avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
período sobre os de eventuais provas finais”. No que tange à Educação Infantil,
a lei evidencia, no artigo 31, que “a avaliação far-se-á mediante
acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção,
mesmo para o acesso ao ensino fundamental” (BRASIL, 1996).
A avaliação é vista, portanto, como processo dialético (diagnóstica,
formativa e somativa), no qual temos a participação do par educativo,
professor-aluno, ambos são avaliados para que as ações educacionais ganhem
viabilidade transformadora da ação de alunos que conquistarão novos
conhecimentos e de professores que modularão novas reflexões, numa construção
da práxis educativa artística ou de qualquer área do conhecimento que esteja
atuando.
No ensino da Arte
[...] entende-se que a avaliação deve permear todo o
processo didático: do início – pelo diagnóstico do que os alunos sabem, não
sabem, querem e devem aprender (avaliação diagnóstica), ao final – pelo
acompanhamento, readequação de estratégias e aferição das dificuldades e
avanços dos alunos (avaliação somativa e formativa). Nesse sentido, ela é
formal (fichas de registros, autoavaliação, trabalhos práticos cujos resultados
podem ser examinados objetivamente) e informal (mediante observação e
acompanhamento atento do professor). [...] É preciso considerar a avaliação em
arte como instrumento de emancipação e transformação da alienação em
conhecimento. Essa é a premissa fundamental para superação da hierarquização,
da classificação, da desigualdade e da exclusão, particularmente na escola pública,
das classes menos favorecidas. (PARANÁ, 2010, p. 41-42).
Vemos, pelo exposto, que as
especificidades do ensino da Arte não fogem ao desejo de romper com as
estruturas cristalizadas e prover a transformação pessoal, social e cultural
dos/nos indivíduos.
Nos mesmos termos Hernández (2000, p.
146), evidencia que a avaliação em artes é um processo envolto em dicotomias e
discussões, mas que deve considerar o objetivo central “[...] das aulas de arte
e da produção e leituras visuais, sonoras e gestuais, fica óbvio que a
avaliação deva partir daí, de como os aprendizes se apropriam dessas
linguagens”. A avaliação em arte tem por enfoque entender, interpretar e
valorizar está área de conhecimento disciplinar.
De acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Arte, a avaliação, no processo de ensino e
aprendizagem de Arte, pode concretizar-se em três momentos distintos que são:
a avaliação pode diagnosticar o nível
de conhecimento artístico e estético dos alunos, nesse caso costuma ser prévia
a uma atividade;
a avaliação pode ser realizada durante
a própria situação de aprendizagem, quando o professor identifica como o aluno
interage com os conteúdos e transforma seus conhecimentos;
a avaliação pode ser realizada ao
término de um conjunto de atividades que compõem uma unidade didática para
analisar como a aprendizagem ocorreu. (BRASIL, 1997, p. 102 e/ou BRASIL, 2001,
p. 56)
A concepção exposta
oportuniza uma visão flexível e dinâmica ao mesmo tempo do processo avaliativo
dialético, que perpassa o antes, o durante e o depois da ação educativa.
Compreendendo, assim, que a avaliação precisa estar comprometida com as
aprendizagens individuais de professores e alunos, no seu sentido construtivo e
evolutivo do homem que busca ser mais.
Em coaduno
ao exposto Hernández (2000) pondera que a avaliação em arte com o
dimensionamento atual vincula-se a arte como disciplina, a experiência estética
e ao conhecimento conceitual e procedimental, num percurso de planejamento do
processo ensino e aprendizagem, que valorize o
conhecimento em seus aspectos perceptivos e conceituais, desenvolva a
consciência crítica e o pensamento flexível e abra caminho
para a compreensão e para a apreciação
da arte, enquanto linguagem e patrimônio cultural da humanidade.
No que tangência alguns aspectos que
pode ser avaliados em arte, embora focado na cultura visual o autor mencionado
anteriormente, sintetiza elementos que podem ser generalizados as demais
ramificações artísticas, reformulados e complementados, mas que são ponto de
partida a avaliação e ampliação do apoderamento de conhecimentos e arte, tais
como:
O conhecimento e a compreensão sobre os
fenômenos e problemas relacionados com a arte, as obras e os artistas.
A capacidade de dar forma visual às
idéias.
A argumentação que apóia temas e
questões relativas à arte.
A descrição, análise e interpretação
das obras de arte e de seus significados.
A curiosidade, a inventividade, a
inovação, a reflexão e a abertura a novas idéias.
A clareza no momento de expressar
idéias, de maneira oral e escrita, sobre a arte.
O fato de expressar e sintetizar idéias
nas discussões sobre arte ou sobre as produções artísticas.
A diferenciação das qualidades visuais
na natureza ou no meio humano.
A participação ativa em todas as
atividades.
A competência na atualização das
ferramentas, dos equipamentos, dos processos e das técnicas relacionadas com as
diferentes manifestações da cultura visual.
As atitudes para as manifestações
artísticas e seu papel na vida das pessoas. (HERNÁNDEZ, 2000, p. 162).
Considerando o exposto enquanto instrumento
avaliativo adequado ao ensino da arte temos a indicação do portfólio19, “[...] uma compilação apenas
dos trabalhos que o estudante entenda relevantes, após um processo de análise
crítica e devida fundamentação” (ALVES & ANASTASIOU, 2006, p. 104), o qual
possibilita uma avaliação abrangente de critérios técnicos e qualitativos, pois
permite ao professor visualizar e avaliar os conhecimentos básicos da arte em
aplicação e os conhecimentos constituídos pela estratégia de busca e ação
criativa em arte.
Enfim, a nosso ver, não existe um
receituário de planejamento, nenhum manual de passos para a avaliação em arte
pronto a ser seguido. Existem sujeitos, educadores e educandos, perspicácia na
ação, no olhar e na reflexão. Para que não passemos a vida toda “a assar o
peixe sem rabo”, sem ao menos saber o motivo.
Em Síntese
O planejamento e a avaliação articulados ao ensino
da Arte têm suas particularidades, sendo o planejamento o instrumento norteador
e base condutora da ação educacional independente da área, no âmbito do qual a
avaliação é parte integrante e parceira essencial para promoção da
transformação educacional e social, ao passo que é diagnóstica, formativa e
somativa, ou seja, processo dialético, de mudança.
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