AULA DE: 23-03-21 e 30-03-21
Ensino
De Arte No Brasil
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Com
efeito, pode-se afirmar que a arte tem suma importância à formação humana em
plenitude e globalidade, na sociedade e na escola contemporânea, mas nem sempre
foi dessa maneira.
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De
acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte – PCNs (BRASIL, 1997,
p. 21) “[...] a área que trata da educação escolar em artes tem um percurso
relativamente recente e coincide com as transformações educacionais que
caracterizam o século XX em várias partes do mundo.”
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Na
primeira metade do século XX, o ensino da Arte, ou melhor dizendo, a arte e seu
ensino tinha por foco a pedagogia tradicional.
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Na
escola tradicional valorizavam-se principalmente as habilidades manuais, os
“dons artísticos”, os hábitos de organização e precisão, mostrando ao mesmo
tempo uma visão utilitarista e imediatista da arte.
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Os
professores trabalhavam com exercícios e modelos convencionais selecionados por
eles em manuais e livros didáticos.
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O
ensino de Arte era voltado essencialmente para o domínio técnico, mais centrado
na figura do professor; competia a ele “transmitir” aos alunos os códigos,
conceitos e categorias, ligados a padrões estéticos que variavam de linguagem
para linguagem mas que tinham em comum, sempre, a reprodução de modelos.
(BRASIL, 1997, p. 25).
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Em
seguida, verificamos que foi difundida no Brasil, na década de 1960, a proposta
de Educação Através da Arte, pautada por uma visão da arte não como meta
educacional, mas como processo criador de livre-expressão do aluno.
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Dessa forma, a livre-expressão foi assumida como um laissez-faire,
“um deixa fazer qualquer coisa”, uma prática centrada na espontaneidade e na
criatividade, descompromissada com o saber artístico, sem suporte de
conhecimento e intervenção do professor, espectador da ação dos alunos.
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Visualizamos
uma mudança paradigmática de um ensino de arte focado na pedagogia tradicional,
da técnica e do conteúdo, para uma pedagogia nova, focada na livre expressão da
criança.
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A
tendência nova no ensino da Arte não perdurou, porque arte-educadores
americanos passaram a tecer severas críticas, no que tange à ideia de
desenvolvimento espontâneo da expressão artística da criança e a contribuição
específica da Arte para a educação do ser humano e a sociedade.
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Emerge
o movimento DBAE (Discipline Based Art Education), idealizado nos Estados
Unidos, cujas propostas passaram a ser divulgadas com maior impacto nos anos
60, sendo que se propunha a repensar o ensino da Arte como disciplina dotada de
especificidades e conteúdos próprios, subdivididos em quatro categorias: a
produção artística, a estética, a crítica e a história da arte.
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No
Brasil, entretanto, o movimento supracitado só ganha materialidade na década de
1980.
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Por
um lado, a inclusão da Educação Artística no currículo escolar foi um avanço,
por outro lado a sua compreensão ora como atividade educativa, ora como
ramificações artísticas, ora como disciplina, não contribuiu com ímpeto para a
fortificação desta área de conhecimento disciplinar no âmbito escolar.
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Afinal,
o Parecer nº 540/77 denota que a educação artística “[...] não é uma matéria,
mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das
tendências e dos interesses” (FUSARI & FERRAZ, 2001, p. 41-42).
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No
contexto de redemocratização do país, com início na década de 1980, Na área de
arte, em específico, tem-se a retomada do movimento DBAE (Discipline Based
Art Education), que inspira o movimento Arte-Educação no Brasil, encabeçado por
Ana Mae Barbosa.
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Deste
modo, Barbosa (2001) idealiza e apresenta a proposta triangular. Esta visa a
valorizar não só a produção artística, mas também as informações culturais e
históricas, bem como a análise das obras.
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A
proposta triangular está centrada em três focos: o fazer artístico, a
apreciação da obra de arte e a reflexão. O fazer artístico refere-se à produção
e à vivência artística propriamente dita; a apreciação refere-se à vivência dos
sentidos, reconhecendo, analisando e identificando a obra de arte e o seu
produtor, seja ele artista ou não; e, a reflexão é um repensar sobre a obra, a
sua contextualização, compartilhando perguntas que a criança faz ou o que o
próprio professor pode elaborar.
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Conforme
Barbosa (2001), devemos alfabetizar as crianças artisticamente, por meio da
leitura estética, para que as mesmas possam decodificar as imagens. A proposta
triangular defende a valorização da arte como matéria escolar, valoriza e
respeita a criação do educando e seu desenvolvimento cognitivo.
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LDBEN
9394/96, ainda em vigor, promulga em seu artigo 26 “§ 2º o ensino da Arte,
especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos”.
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Tem-se
aqui, finalmente, a inclusão do ensino da Arte como disciplina constituinte do
currículo pleno e obrigatório, de todo o território nacional brasileiro, da
Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
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Segundo
os PCNs de Arte (BRASIL, 1997), para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o
ensino da Arte subdivide-se em quatro blocos ou ramificações artísticas, sendo
elas: artes visuais, música, dança e teatro. O documento estabelece, ainda, os
objetivos gerais do ensino da Arte para esta etapa:
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expressar
e saber comunicar-se em artes mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou
coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a
reflexão ao realizar e fruir produções artísticas;
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interagir
com materiais, instrumentos e procedimentos variados em artes (Artes Visuais,
Dança, Música, Teatro), experimentando-os e conhecendo-os de modo a utilizá-los
nos trabalhos pessoais;
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edificar
uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento
estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de
criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções;
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compreender
e saber identificar a arte como fato histórico contextualizado nas diversas
culturas, conhecendo respeitando e podendo observar as produções presentes no
entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural,
identificando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos;
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observar
as relações entre o homem e a realidade com interesse e curiosidade,
exercitando a discussão, indagando, argumentando e apreciando arte de modo
sensível;
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compreender
e saber identificar aspectos da função e dos resultados do trabalho do artista,
reconhecendo, em sua própria experiência de aprendiz, aspectos do processo
percorrido pelo artista;
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buscar
e saber organizar informações sobre a arte em contato com artistas, documentos,
acervos nos espaços da escola e fora dela (livros, revistas, jornais,
ilustrações, dispositivos, vídeos, discos, cartazes) e acervos públicos
(museus, galerias, centros de cultura, bibliotecas, fonotecas, videotecas,
cinematecas), reconhecendo e compreendendo a variedade dos produtos artísticos
e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias.
(BRASIL, 1997, p. 53-54).
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Pelo
exposto nos PCNs de Arte (BRASIL, 1997), trabalhar com o ensino da Arte não
significa apenas desenvolver atividades que liberam as emoções, mas também
enfocar a arte como construção do conhecimento, realização de experiências do
fazer artístico, da apreciação da obra de arte, da contextualização, bem como
da compreensão estética, das formas produzidas por ela, pela natureza e pelas
diferentes culturas.
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No
que tange à Educação Infantil a importância do ensino da Arte também é
explicitada no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI
– BRASIL, 1998), no volume conhecimento mundo, em três das seis áreas
estabelecidas como fundamentais na educação da primeira infância, sendo elas: o
movimento, a música e as Artes Visuais.
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O
documento RCNEI, que é uma proposta de caráter alternativo e flexível, pontua
que as crianças têm uma natureza sensível, aberta a apreensão do ensino da
Arte, seja pela linguagem corporal do movimento, seja pela linguagem sonora de
musicalização, ou pela linguagem plástica que emana das Artes Visuais.
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Apesar
da natureza infantil aberta a aprendizagens artísticas, o professor, desde a
Educação Infantil, é um mediador imprescindível para a construção de novos
conhecimentos, é responsável pelo planejamento e execução da prática
pedagógica, tem função ímpar na organização dos cantinhos e ateliês artísticos,
de acordo com os conteúdos a serem trabalhados, é orientador da manutenção e
organização dos materiais da sala, e articulador no alcance dos objetivos de
aprendizagem.
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No
âmbito nacional, a lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008, dispõe sobre a
obrigatoriedade do ensino da música na educação básica em todas as escolas brasileiras,
passando a compor o texto da LDBEN 9394/96 em seu artigo 26: “§ 6o A música
deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de
que trata o § 2o deste artigo”. Ou seja, a música passa a ser conteúdo
estruturante da escola básica, mas não apenas pertencente ou integrante a
disciplina de Arte. Tal perspectiva legal amplia o campo da arte no domínio
escolar, a partir da linguagem musical e possibilita a articulação da arte e da
música, com outras áreas de conhecimento, num enfoque metodológico
interdisciplinar.
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Concluímos
que a arte tem importância primordial na sociedade e na formação auferida aos
sujeitos humanos, alunos, no espaço escolar, mas igual as demais áreas do
conhecimento trilha, desde sua gênese, um percurso histórico e legal de avanços
e retrocessos, e que perdura a delineá-la enquanto ciência estética, artística
e cultural determinante e determinada no presente, que é síntese de múltiplas
significações.
Linha
Do Tempo Do Ensino De Arte No Brasil
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Os
primeiros registros relacionados ao ensino da Arte no Brasil são datados,
aproximadamente, entre os anos de 1549 e 1808, período em que a educação era
dominada pela missão jesuítica.
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1816
Durante o governo de dom João VI, chega ao Rio de Janeiro a Missão Artística
Francesa e é criada a Academia Imperial de Belas Artes. A Missão Artística
Francesa chegou ao Brasil, com um grupo de artistas importados da França,
encarregados de substituir a concepção popular de arte, assim como o Barroco
Brasileiro, pelo Neoclassicismo, com enfoque nos desenhos, pintura, escultura e
moda europeia. Seguindo modelos europeus, é instalado oficialmente o ensino de
Arte nas escolas.
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1900
Até o início do século 20, o ensino do desenho é visto como uma preparação para
o trabalho em fábricas e serviços artesanais. São valorizados o traço, a
repetição de modelos e o desenho geométrico.
1922 Apesar da efervescência das manifestações da Semana de Arte Moderna, o
ensino segue as tendências da escola tradicional, que defende a necessidade de
copiar modelos para treinar habilidades manuais. A Semana de Arte Moderna,
realizada entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de
São Paulo, reuniu um grupo de artistas; entre eles, músicos, artistas plásticos,
arquitetos e escritores que defendiam a arte com estilo próprio brasileiro,
negando as vanguardas europeias.
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1930
O compositor Heitor Villa-Lobos, no governo de Getúlio Vargas, institui o
projeto de canto orfeônico nas escolas. São formados corais, que se desenvolvem
pela memorização de letras de músicas de caráter folclórico e cívico.
1935 O escritor Mario de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura do
município de São Paulo, promove um concurso de desenho para crianças com tema
livre. O ganhador recebe uma quantia em dinheiro.
1948 É criada no Rio de Janeiro a primeira "Escolinha de Arte", com a
intenção de propor atividades para o aluno desenvolver a autoexpressão e a
prática. Em 1971, chega a 32 o número de instituições particulares desse tipo
no país.
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1960
As experimentações que marcam a sociedade, como o movimento da bossa nova,
influenciam o ensino de Arte nas escolas de todo o país. É a época da tendência
da livre expressão se expandir pelas redes de ensino.
1971 Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Educação
Artística (que inclui artes plásticas, educação musical e artes cênicas) passa
a fazer parte do currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio.
1973 Criação dos primeiros cursos de licenciatura em Arte, com dois anos de
duração e voltados à formação de professores capazes de lecionar música,
teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico.
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1989
Desde 1982 desenvolvendo pesquisas sobre três ideias (fazer, ler imagens e
estudar a história da arte), Ana Mae Barbosa cria a proposta triangular, que
inova ao colocar obras como referência para os alunos.
1996 A LDB passa a considerar a Arte como disciplina obrigatória da Educação
Básica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais definem que ela é composta de
quatro linguagens: artes visuais, dança, música e teatro.
Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais / Metodologia do Ensino da Arte,
Maria Heloísa C. de T. Ferraz e Maria. F. de Rezende e Fusari / Para gostar de
aprender Arte: Sala de aula e formação de professores, Rosa Iavelberg
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Depois
de toda essa breve visão histórica do ensino de arte no Brasil, observa-se toda
a influência que o ensino da arte sofreu, desde relações políticas, sociais e
culturais, pois o Brasil foi construindo sua cultura e história junto com a
educação.